Delegado alerta para riscos que adolescentes correm em lutas clandestinas: 'Não se trata de esporte, é selvagem'
01/07/2025
(Foto: Reprodução) Esquema de lutas clandestinas divulgas nas redes sociais para atrair adolescentes foi alvo da operação Final Fight, deflagrada pela Polícia Civil. Dois homens, de 20 e 31 anos, suspeitos de promover os eventos, foram presos. Policia prende bandidos que usavam a internet para aliciar menores para brigas de rua
O delegado da Polícia Civil, Leonardo Strunz, que investiga a realização de lutas clandestinas entre adolescentes em Boa Vista, fez um alerta de que os confrontos não podem ser equiparados a esportes de artes marciais e podem até levar à morte. Para combater as rinhas e exploração de meninos e meninas, a polícia prendeu dois homens, de 20 e 31 anos, suspeitos de promover os eventos na capital.
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Investigadores da Delegacia de Defesa da Infância e da Juventude (DDIJ) identificaram que as disputas eram compartilhadas em páginas nas redes sociais criadas para atrair as vítimas para festas ilegais. As "rinhas" aconteciam em uma praça na zona Oeste, valiam aposta em dinheiro e chegaram até a oferecer como prêmio uma menina de 13 anos.
"A internet surge como um atrativo, de forma a cooptar essas crianças e adolescentes. É importante a gente lembrar que essa prática não se trata de esporte. É uma luta selvagem, sem técnica nenhuma. Então, foge de qualquer cunho esportivo", frisou o delegado Leonardo Strunz.
Lutas clandestinas aconteciam em praças de Boa Vista (RR)
Arquivo pessoal
Nas redes sociais, os vídeos das lutas clandestinas acumulavam mais de 135 mil visualizações e "alto volume de comentários e compartilhamentos". Os adolescentes usavam luvas de boxe durante as brigas. Os cards de divulgação tinham frase como "Sem levar para o coração" e "hoje tem combate!".
O alerta de Strunz vem em meio ao que ele classificou como um "fenômeno inédito" no Brasil: o crescimento das lutas clandestinas em diversos estados. No ano passado, um garoto foi espancado e ficou desacordado durante uma luta ilegal em Goiás.
"No Brasil inteiro vem crescendo essas lutas e a gente atua de uma forma preventiva pra que o pior não venha acontecer. Então, a gente observou [lutas] em vários estados com consequências negativas, com crianças ficando paraplégicas, morrendo... Então, a gente atua de forma pra inibir essas condutas", explicou o delegado.
Lutas clandestinas ocorriam em praças e envolvia meninos e meninas
Arquivo pessoal
As vítimas envolvidas nas lutas em Roraima tinham entre 12 e 17 anos. Elas eram cooptadas por meio das redes sociais e de forma presencial na região onde os "combates" aconteciam. De acordo com a polícia, alguns pais sabiam, outro não. Todos os adolescentes são tratados como vítimas na investigação.
"São vítimas de uma exploração, exploração das imagens deles, teve uma exploração sexual também [no caso da menina dada como prêmio]", afirmou Strunz.
As investigações sobre o assunto seguem em andamento na DDIJ. Além disso, o Ministério Público acompanha, por meio da Promotoria da Infância e Juventude - são investigados crimes como corrupção de menores, lesão corporal, tortura, estupro de vulnerável, e associação criminosa.
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Operação Final Fight
A operação foi deflagrada no dia 25 de julho e prendeu dois homens, de 20 e 31 anos, suspeitos de promover os eventos. Durante as buscas, uma menina de 13 anos foi encontrada na casa do investigado mais jovem.
A polícia identificou que ele mantinha um relacionamento com a adolescente, o que se classifica como violência sexual. Ele também foi preso em flagrante por estupro e a adolescente foi entregue à mãe.
A Polícia Civil também cumpriu mandados de busca e apreensão na casa dos suspeitos, localizada no bairro Dr, Airton Rocha. As ordens judiciais foram executadas por agentes da Seção de Investigação e Operações (Siop) da DDIJ, com apoio do Grupo Tático Municipal (GTAM) da Guarda Civil Municipal.
Durante as buscas, celulares e dispositivos de armazenamento dos suspeitos foram apreendidos. O material deve passar por perícia e revelar novas evidências, suspeitos e crimes conexos.
A operação recebeu o nome Final Fight em alusão ao clássico jogo eletrônico dos anos 1990, sobre brigas de rua, remetendo simbolicamente à intenção de pôr a prática que vinha ganhando espaço na capital.
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